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I
A negativa em crer em Deus na sua essência
É o recurso de um homem amedrontado:
Cabe-lhe a dúvida, como a prova de ditado,
E um cabeçalho inscrito o nome da ciência.
O bicho acuado justifica a bala ao papa
E, nela, espelha a luta errada contra o erro;
Toma o delírio do ferido e a fé lhe escapa,
Porque lhe afronta a salvação pelo desterro.
Busca o canhestro apresentar sua ira a Deus,
Porque supõe que o homem estreita a confiança
E toma santos a ilibar os desejos seus;
E, o mesmo homem que esse deus tangível mata
Concebe a vida em sua dúbia reentrância
E sem notar propaga Deus na forma inata.
II
Reza o ateu, à sua forma, num terço cético
De que os males que nos tomam a causa é Deus.
Por isso, aceita a revolta de Sam Harris, o ateu,
Na inteligência artificial que agrada o herético.
Porque se o homem matou Deus, quero o atestado
De óbito, como ação de morte-inconteste;
E a causa, a arma, o local, a hora e o estado;
Se foi veneno, foi descrença ou mal da peste!?;
Se Ele sangra e quem lhe sangra quero vê-lo
O ímpio às mãos sujas de sangue e sabê-lo
Como pode matar o Ser que a si não existia.
O certo é que todo deitricida tem mais fé,
Que eu – que Deus nem o cogito que Não É,
Pois passa a vida a renegar o que lhe agonia.
(F.N.A)
domingo, 24 de agosto de 2008
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
"Velha Manjedoura" - Soneto Espírita
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"Velha Manjedoura"
À minha filha Emanuelle
Por não sentir a dor do parto na virilha,
Por não sentir a fome exausta pelo peito
É que um pai cogita à sombra esse preceito:
Todo Amor é muito pouco à sua filha.
É mais amar, que a própria mãe, o amor que brilha
E disputar por seus carinhos de confeito;
É ansiar saber suas dores, bem sem jeito,
Do que a vida lhe prepara como trilha.
Somente um pai, ante o infecundo de seu ventre,
Cultiva aos olhos todo zelo e todo apego
Por um bebê que ora crescido mais não adentre,
Por entre o braço protetor de seu sossego
Que, tanto um dia, embalou-a no alpendre,
E hoje é só uma manjedoura sem aconchego.
(Fredson N. Aguiar)
"Velha Manjedoura"
À minha filha Emanuelle
Por não sentir a dor do parto na virilha,
Por não sentir a fome exausta pelo peito
É que um pai cogita à sombra esse preceito:
Todo Amor é muito pouco à sua filha.
É mais amar, que a própria mãe, o amor que brilha
E disputar por seus carinhos de confeito;
É ansiar saber suas dores, bem sem jeito,
Do que a vida lhe prepara como trilha.
Somente um pai, ante o infecundo de seu ventre,
Cultiva aos olhos todo zelo e todo apego
Por um bebê que ora crescido mais não adentre,
Por entre o braço protetor de seu sossego
Que, tanto um dia, embalou-a no alpendre,
E hoje é só uma manjedoura sem aconchego.
(Fredson N. Aguiar)
"Pajelança" - Soneto Daimista
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"Pajelança"
À meu amigo Jean e à Tupinambá
Dessas almas encarnadas que exorcizo
Com silêncios reclusivos do que sou,
Fica um traço descarnado de granizo
De um demônio congelado que restou.
E a tristeza que me invade na aldeia,
Enche o teto espectral da minha oca
Com antepassados escorados na candeia –
Almas piladas junto aos grãos de tapioca.
É quando a mata estrala a copa e as raízes,
Que um estrondo inominável na vereda,
Vai emurchecendo outros Seres infelizes.
E entorpecido pelo canto da floresta,
Cambaleando na hipnose da água azeda,
Transmigro a alma de xamã à tua festa.
(Fredson N. Aguiar)
"Pajelança"
À meu amigo Jean e à Tupinambá
Dessas almas encarnadas que exorcizo
Com silêncios reclusivos do que sou,
Fica um traço descarnado de granizo
De um demônio congelado que restou.
E a tristeza que me invade na aldeia,
Enche o teto espectral da minha oca
Com antepassados escorados na candeia –
Almas piladas junto aos grãos de tapioca.
É quando a mata estrala a copa e as raízes,
Que um estrondo inominável na vereda,
Vai emurchecendo outros Seres infelizes.
E entorpecido pelo canto da floresta,
Cambaleando na hipnose da água azeda,
Transmigro a alma de xamã à tua festa.
(Fredson N. Aguiar)
"Autofagia (alguém me ouve?)"
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“Autofagia”
I
Eu sou a alma de um cachorro abandonado
Pelo meu dono, pela rua e a carrocinha;
E já não sei se há uma dor maior que a minha
Que justifique andar na vida a maus bocados.
Daí, eu vou, na condição do cão cansado,
Que tem azar inigualável e bem murrinha,
Chorar minha auto-piedade comezinha,
Sentindo pena de meus ares de entrevado.
Abandonado em meus latidos de lamúria,
Uivo pro luar, uivo pras almas e pras ruas,
Porque meu lar de mansidão é a penúria,
Dessa que cobre cães benzidos pelas chagas
E não há Lázaro que minhas costelas nuas,
Tenha bondade de curar-me dessas mágoas.
II
Porque até Lázaro recheado de suas dores,
Por esta vida foi mais forte – engano meu? –
Que eu, mirando a autofagia do meu Eu,
Na condição inadequada dos temores.
Porque ainda ando a chorar essa ausência
De mansidão, de amor e paz e de martírio –
Nada que um cão que nada solto pelo rio
Possa transpor de uma beira à paciência.
Ando a comer, numa tigela de vazios,
A esperança nutritiva desses ossos
E os bacilos mais infectos e sombrios;
Alimentado de tristeza; um vira-lata,
Que passa a custo estes dias tenebrosos,
Feito um animal expulso a tiro pela mata.
(Fredson N. Aguiar)
“Autofagia”
I
Eu sou a alma de um cachorro abandonado
Pelo meu dono, pela rua e a carrocinha;
E já não sei se há uma dor maior que a minha
Que justifique andar na vida a maus bocados.
Daí, eu vou, na condição do cão cansado,
Que tem azar inigualável e bem murrinha,
Chorar minha auto-piedade comezinha,
Sentindo pena de meus ares de entrevado.
Abandonado em meus latidos de lamúria,
Uivo pro luar, uivo pras almas e pras ruas,
Porque meu lar de mansidão é a penúria,
Dessa que cobre cães benzidos pelas chagas
E não há Lázaro que minhas costelas nuas,
Tenha bondade de curar-me dessas mágoas.
II
Porque até Lázaro recheado de suas dores,
Por esta vida foi mais forte – engano meu? –
Que eu, mirando a autofagia do meu Eu,
Na condição inadequada dos temores.
Porque ainda ando a chorar essa ausência
De mansidão, de amor e paz e de martírio –
Nada que um cão que nada solto pelo rio
Possa transpor de uma beira à paciência.
Ando a comer, numa tigela de vazios,
A esperança nutritiva desses ossos
E os bacilos mais infectos e sombrios;
Alimentado de tristeza; um vira-lata,
Que passa a custo estes dias tenebrosos,
Feito um animal expulso a tiro pela mata.
(Fredson N. Aguiar)
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
"Meu Bom Levi" - Soneto Daimista
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“Meu bom Levi”
Uma conta cobrada em sessão
A chaga de menino que causei,
Perdida entre mim e mesmo em mim,
Pulou pela goela e me afoguei
E o cuspe que sorvi... veneno, assim.
“Depois de vinte anos, regressei,
Porque a conta aberta era sem fim” –
Foi quem – quando moleque – magoei,
Voltou para cobrá-la junto a mim.
Orgulho – ingrato pai dos afogados –
Não resta quem lhe tome como bóia
Ao mar por onde nadam naufragados;
Mas só me coube um gole, um, somente,
Pra mão eu estendê-la além da bóia
À busca de salvar-me em mar doente.
(Fredson N. Aguiar)
“Meu bom Levi”
Uma conta cobrada em sessão
A chaga de menino que causei,
Perdida entre mim e mesmo em mim,
Pulou pela goela e me afoguei
E o cuspe que sorvi... veneno, assim.
“Depois de vinte anos, regressei,
Porque a conta aberta era sem fim” –
Foi quem – quando moleque – magoei,
Voltou para cobrá-la junto a mim.
Orgulho – ingrato pai dos afogados –
Não resta quem lhe tome como bóia
Ao mar por onde nadam naufragados;
Mas só me coube um gole, um, somente,
Pra mão eu estendê-la além da bóia
À busca de salvar-me em mar doente.
(Fredson N. Aguiar)
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
"Seara de Arbusto" - Soneto Espírita
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"Seara de Arbusto"
Nenhum modelo a ser seguido pelo mundo
(Por este ou outro que o Universo desconheça),
É que serei, caso o tratado permaneça,
Assimilado pelo arado mais fecundo.
Pois a semente que eu sou, o Pai não planta –
Seca, estéril e atrofiada pelo broto.
Assim, um pobre de espírito bem roto,
Como eu, recusa o húmus santo da mão santa.
O Pai escolhe na seara de sua messe,
Em quais videiras uvas cheias de doçura
Adoçarão o vinho novo da quermesse;
Mas, faz também a sua escolha de vetusto,
Pois há sementes que só nascem em terra dura
E vem ao mundo pra viver como arbusto.
(Fredson N. Aguiar)
"Seara de Arbusto"
Nenhum modelo a ser seguido pelo mundo
(Por este ou outro que o Universo desconheça),
É que serei, caso o tratado permaneça,
Assimilado pelo arado mais fecundo.
Pois a semente que eu sou, o Pai não planta –
Seca, estéril e atrofiada pelo broto.
Assim, um pobre de espírito bem roto,
Como eu, recusa o húmus santo da mão santa.
O Pai escolhe na seara de sua messe,
Em quais videiras uvas cheias de doçura
Adoçarão o vinho novo da quermesse;
Mas, faz também a sua escolha de vetusto,
Pois há sementes que só nascem em terra dura
E vem ao mundo pra viver como arbusto.
(Fredson N. Aguiar)
"Epicentro" - Soneto Espírita
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"Epicentro"
Minha harmonia é diverso epicentro
Dessas tragédias geológicas da esfera –
A propulsão com que o gêiser cospe a serra
É a mansidão do meu espírito por dentro;
O caos revolto em tsunamis de cimento
É o coração que sepultei no Mar de Ross;
E o tremor, na escala Richter, vem após,
Pra desbastar as colunatas que sustento.
O Instituto Anti-Tragédias que disponho
É o papel, é uma caneta e um cigarro
E todo o crânio liquefeito de neurônio;
E só terei a vã calmaria da geosfera,
Quando o Pai puxar a clava do anteparo,
E desprender-me, eternamente, dessa Terra.
(Fredson N. Aguiar)
"Epicentro"
Minha harmonia é diverso epicentro
Dessas tragédias geológicas da esfera –
A propulsão com que o gêiser cospe a serra
É a mansidão do meu espírito por dentro;
O caos revolto em tsunamis de cimento
É o coração que sepultei no Mar de Ross;
E o tremor, na escala Richter, vem após,
Pra desbastar as colunatas que sustento.
O Instituto Anti-Tragédias que disponho
É o papel, é uma caneta e um cigarro
E todo o crânio liquefeito de neurônio;
E só terei a vã calmaria da geosfera,
Quando o Pai puxar a clava do anteparo,
E desprender-me, eternamente, dessa Terra.
(Fredson N. Aguiar)
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